sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Receitas de tarifas já somam 20% dos lucros dos bancos

Por Ana Laura Diniz
Diário do Comércio


Depois de somarem um lucro líquido de R$ 10,765 bilhões em 2005 e de apresentarem crescimento médio de 59,6% na comparação com 2004, Bradesco e Itaú fomentam uma discussão no mercado acerca do ótimo desempenho dos bancos no Brasil. "A máxima de que 'de grão em grão a galinha enche o papo' é a que melhor define a série de recordes nos lucros", disse o consultor econômico Alberto Matarazzo, que atribuiu às tarifas bancárias grande parte do sucesso do setor.

Para ele, a explosão das operações de crédito como principal justificativa para o lucro exorbitante das instituições financeiras tende a mascarar a realidade. "As tarifas cobradas nos mais diversos serviços financeiros são cada vez mais altas e abusivas", disse.

De acordo com estudo do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad), a receita de prestação de serviços (ou seja, de tarifas) de Bradesco, Banco do Brasil, Banespa, Itaú e Unibanco representava 8% do resultado, na média, em 1995. Em 2005, a participação dessa mesma receita saltou para 20%. "Os números são significativos e quem paga é o consumidor. As tarifas, isoladamente, parecem pequenas, mas os bancos somam montantes generosos", disse o analista financeiro da Inepad, Edson Carminatti.

Paga-se por tudo. Para receber um extrato, realizar uma transferência de valores, sacar seu próprio dinheiro em caixas eletrônicos, depositar cheque em conta, renovar o cadastro de pessoa física para conta especial, emitir talão de cheques, cartão magnético e até pelos cheques devolvidos. "São tarifas que não acabam mais", afirmou o analista.

Despesas de pessoal — Carminatti também informou que a prestação de serviços (composta pelas tarifas cobradas, somada a rendimentos de administração de recursos, cartões e operações de crédito e serviços de recebimentos), representa a terceira maior receita das instituições financeiras. "Com essa receita, os bancos também já pagam todas as despesas de pessoal", afirmou.

Na outra ponta, o estudo revela que a receita das operações de crédito, em 1995, representava 59%, na média, dos ganhos dos bancos. No fim de 2005, a média caiu para 46%. "Isoladas, essas receitas não teriam tanto lucro. A soma dos ganhos com juros dessas operações às cobranças de tarifas que geram é que dão resultado às instituições", disse Carminatti. "Alia-se a essa realidade um componente mais severo: o spread bancário", corroborou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

O spread é a diferença entre os juros que os bancos pagam na hora de captar dinheiro (pegando emprestado de outros bancos ou de poupadores) e os juros que cobram nos empréstimos que fazem aos tomadores (pessoas físicas e jurídicas). "Todo banco vive de spread. A priori, é a margem de lucro do banco", acrescentou Agostini.

Para o economista Jason Vieira, da GRC Visão, mais que o avanço das altas tarifas bancárias e das operações de crédito, em especial de empréstimos consignados (com desconto em folha de pagamento), os bancos ganharam mesmo com as operações calcadas nos juros e nas vendas de dólares.

"Ao que tudo indica, este ano todas as instituições financeiras deverão fazer nova dobradinha crédito-tarifas. E àqueles que estão insatisfeitos com os juros e as tarifas cobradas, uma alternativa pode ser se tornar sócio do banco e receber parte do dinheiro de volta", finalizou o economista, ao afirmar que os resultados dos bancos deverão continuar em alta, gerando valorização para ações do setor no mercado.

Nenhum comentário: