quarta-feira, 17 de agosto de 2005

sintomático

acho que já sei o que acontece. o libriano é um saco. nada de generalizações. eu sou um saco. por uma infinidade de coisas, sendo uma delas: não consigo fazer determinadas coisas se tudo não estiver favorável. falo de um clima. não se faz sol, chuva, calor ou frio. é um estar em sintonia, o universo em melhor regência.

lembro da tarde em que fiquei trancada com um grupo de góticos no cemitério da consolação. eles, achando tudo divertido, e eu, tentando localizar o túmulo da minha família para ter mais referências de fuga. não precisou. antes que eu localizasse um grupo de skinheads nos achou. eles, ameaçando-nos da rua com palavras de morte, tchaco, gritaria, pontapés, porrada e soco inglês. foi a primeira vez que me deparei com a fúria sádica e assassina desse grupo. não me perguntem como, mas marlon brando me salvou. eu estudava a técnica cinematográfica dele de rolar de uma certa altura sem se machucar, pois encenava tambores da noite, de brecht, e rosa luxemburgo encarnada em minha pele obrigava-me a despencar um metro e meio do palco diariamente - e num impulso, brando me fez vencer mais de quatro metros de muro do consolação sem quebrar um único osso. skinheads dentro, pataquada, fora. arranhões e machucados só contabilizados ao chegar em casa, e uma baita distensão na perna direita curada três dias depois a custo de muita compressa e calminex; pomada que só recomendo se for de uso veterinário.

tempos em que eu escrevia rios de poesias, algumas um tanto sombrias para quem vivia aborrescentes 16 anos... pensamentos e crises existenciais que nada ajudavam. passam os anos, e parece que tudo vem tatuado na pele. quem vê a casca, não julga a atenção aos detalhes, às palavras, a fragilidade interna. o existencialismo sacal e dramático ainda me persegue. e só quem convive comigo, sabe. mas num ápice total de liberdade, desprendimento, paciência ou qualquer palavra que melhor defina, não permitem que isso interfira no amor que sentem por mim. no desejo de me quererem por perto. e aprendem a rir quando sou vulcão em erupção. por essas e outras sou inteiramente grata a essas (poucas) pessoas. porque já sofro sendo assim. e sofreria muito mais se não as tivesse por perto ou cogitasse a incerteza do amor delas por mim
.

porque eu amo - verdadeiramente.

é, às vezes penso que eu mesma me saboto. e me estropio toda. socorro! mas por que falo isso? ah, sim, porque dizia que sou um saco como quem justifica o perfeccionismo que me atrapalha diariamente.

consequências múltiplas. uma delas: travo. não escrevo.

escrevo. mas, salvo exceções (e 'contos de bordel' atesta isso), não gosto de quase nada que produzo.

então finjo que gosto, mas por não me convencer, entro em crise. sim, aquela, a existencial. e nessas horas assumo a quem quer que seja: eu não sei escrever.

mas continuarei a escrever.

e quanto mais penso nisso, mais me convenço, e nada sai da forma como desejava.

talvez eu precise dar um grito.
talvez eu precise saltar um muro.
um muito mais alto que o do consolação.
aquele que mais apavora.
entende?

não entende.

mas se você fosse eu, certamente entenderia — o pavor e a alegria de ser eu mesma. e me amaria. ah, me amaria. por toda a vida. porque compreenderia. e saberia que isso é quase, mas quase não é todo dia. e na vivência, só na vivência, perceberia que isso também parece grande, mas é muito, muito pequeno... frente a outras qualidades. sim, as qualidades existem. são muitas. e sem crise.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ah eu tbm amo muito e tbm travo e tbm sou um saco. Sim sou libriana do dia 3 de outubro...