terça-feira, 26 de julho de 2005

feliz aniversário, mi madre

desde que nasci
a voz da mulher
me embala
me alegra
me faz chorar
me arrepia os cabelos
me faz dançar
me cala ressentimentos
me ensina a amar

o que pode uma filha a uma mãe? sendo a minha, respondo: 'pouco, muito pouco'. vou contra a discordância da fala e acrescento. o que posso com um amor que não mede esforços, liberta e se faz presente? não apenas como mãe, mas como uma verdadeira amiga que torce e se revela em detalhes. que não nega ouvir, nem nega palavras que chamam a atenção. nada em tom de briga, mas de reflexão. benevolências divinas. o que posso com esse olhar que vaza, sorri inteiro e se entrega? ô minha mineira, ô bicha mais engraçada. é teu aniversário e eu canto pra você.


uma mulher cantando nas antilhas
uma voz de mulher
nos rádios do brasil
(...) e as negras americanas
dos hinos e dos blues


consegue você me ouvir entre as montanhas de minas? me pego em lembranças mil... das noites estreladas e todos nós, papai e os meninos, na varanda declamando poesia, entoando serenatas. das tardes vãs em que entre uma leitura e outra a cabeça debruçava em seu colo sempre receptivo. recordo tanta coisa... de quando pegávamos os saveiros e sumíamos mar adentro... ah, mãe... da infinidade de vezes em que abriu (e abre) mão das suas coisas para realizar nossos desejos... dos momentos em que colocou (e coloca) o amor na frente de tudo... como da vez em que subiu na árvore preocupada com os cinco espalhados pelos galhos e só então se deu conta que tinha paúra de altura. uma escada, por favor! não olhe para baixo, e desça.


amor, amor
me leva essa voz
nas asas das canções

então engulo o teu abraço e absorvo sua voz em tom de profecia: 'quem não se envolve não desenvolve'. festejo. tua fala mansa, sábia, firme, subversiva, revolucionária, magnânima e completamente lunática. quando insistem em dizer que sou tua versão recente, envaideço-me, mas apenas porque você é o máximo. e declino da comparação insensata. mas compartilho do sentimento de felicidade que assim como o amor não se desvenda. permeia, roda, enseja, ajeita a trança no cabelo da menina como mera tentativa de traduzir o que por natureza é inenarrável. do meu quarto, a janela aberta traz o sabiá. o mesmo sabiá que ontem não sabia assoviar.

eu quero ouvir
por toda minha vida
uma mulher cantando para mim


sei que nada disso traduz de fato o que simples e profundo é.
mas fica como símbolo. o meu beijo, o meu abraço, a minha devoção natural a quem merece tudo, e sempre o melhor.
eu te amo. e tenho muito orgulho e alegria de ser tua filha.

3 comentários:

Clau disse...

Coisa mais linda Ana. Ela é maravilhosa!!

Beijo grandão na sua mãe por mim, que os Deuses a guardem e protejam sempre.

Anônimo disse...

Aninha, e quem é que pode com a dona Neyde? Diz, diz? Ela é demaisssssssss!!! Beijo e saudade de vocês.

Servio Tulio disse...

Que linda! Manda um beijão para ela por mim!!!!