segunda-feira, 20 de julho de 2009

a vida tem a sua graça

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

[Ricardo Reis]

conta uma lenda antiga, que a noite pintou o céu de estrelas. duas delas se olhavam, se desejavam, mas não se abraçavam porque sabiam - eclodiriam.

a primeira não entendia, e que o mundo acabasse. a segunda, explicava em vão.

- eclosão não é a melhor solução.
- rimou, disse a primeira.
- sem intenção, respondeu a segunda.

e assim o inferno está cheio.

o dito pelo não dito. tudo parecia descartável. de todos os modos, parecia. o copo, o guardanapo, as estrelas no céu.
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passaram a desconfiar dos dias. da noite. e de mais... mais...
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e nada parecia fazer sentido.
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e nada fazia sentido.
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as estrelas, no céu, ainda assim, cada uma a seu modo, brilhavam, ofuscavam, adormeciam, morriam, sumiam.
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na lembrança, o intocável silenciava. e não permitia que nada se alterasse. que nada se falasse. e aprendia a conviver com o insustentável para não expor. não machucar. sim, ela cuidava, calada. dentro. bem dentro de si, porque sabia viver a luz de outra estrela. aquela, inimaginável. aquela que não se podia encostar.

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas)

[Alberto Caeiro]

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