segunda-feira, 13 de março de 2006

Bancos estrangeiros disputam R$ 1,6 tri

Por Ana Laura Diniz e Roseli Lopes
Diário do Comércio


A mordida que os bancos estrangeiros deram no bolo dos nacionais pode parecer pequena para quem está acostumado a ouvir que aquelas instituições não têm chance em um país como o Brasil, onde a eficiência de seus bancos é reconhecida hoje mundialmente. Acontece que a participação no SFN dos bancos nacionais, os mesmos dos lucros estonteantes, encolheu. Era de 82% em 2004. Caiu para 81%, nos 12 meses seguintes.

Para Edson Carminatti, analista do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad), consultoria especializada em análises do sistema financeiro, a despeito da distância entre a concentração de bancos nacionais e estrangeiros no Sistema Financeiro, uma coisa é certa: "O crescimento do mercado bancário brasileiro em 2005 veio dos estrangeiros", diz ele.

Mais espaço – Em termos percentuais, a expansão dos estrangeiros dentro do SFN não parou nos ativos. Se estendeu pelos depósitos, avançou no lucro líquido. Levantamento do Inepad feito a pedido do Diário do Comércio mostra que os depósitos totais dos bancos de controle estrangeiro em 2005 cresceram 29% sobre 2004. O dos nacionais, 17%. Com isso, a participação dos estrangeiros no mercado, nesse segmento, avançou de 17% para 18%. Já a dos bancos brasileiros recuou de 83% para 82%.

O mesmo pode ser observado em relação ao resultado líquido. Os bancos com controle nacional tiveram, juntos, um resultado líquido 33% maior no ano passado, enquanto os estrangeiros avançaram 172%. O SFN cresceu 45%. O reflexo, mais uma vez, se viu na participação dentro do SFN: a representatividade dos bancos nacionais caiu de 92% para 85%. A dos estrangeiros subiu de 8% para 15%.

Os números podem ser interpretados também como um recado. O de que, dez anos depois de muitos dos bancos estrangeiros terem zerado ou reduzido sua exposição no País, após o Plano Real ter diminuído bruscamente os ganhos inflacionários dos bancos, quem ficou está disposto a brigar por um mercado que tem quase o tamanho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, hoje próximo a R$ 1,8 trilhão.

Varejo – Para 2006, muitos analistas desse mercado sustentam que a disputa será maior entre os bancos de varejo, onde a concessão de crédito e de serviços tem se revelado uma galinha de ovos de ouro. "O Brasil hoje é um mercado com grande potencial de crescimento para a atividade bancária, em especial para os bancos de varejo, já que o País carrega uma expectativa muito grande de crescimento do crédito e, aqui, a média da população bancarizada, comparada a outros países emergentes como o Brasil, é baixa", diz Pedro Gomes, diretor da área de bancos da Fitch Ratings no Brasil, agência de classificação de riscos, incluindo os bancários.

Se o mercado é grande, a concorrência, maior ainda. De um lado do ringue estão hoje o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Bradesco, Itaú, Unibanco, para falar dos cinco maiores bancos brasileiros com os melhores resultados em 2005, não necessariamente nessa ordem. No lado oposto estão o espanhol Santander Banespa, o holandês ABN AMRO Brasil, o inglês HSBC, os americanos BankBoston e Citibank, também os que mais se destacaram em resultado no ano passado. Terá lugar para tantos?

"Há espaço para todos, mas uma coisa é certa: não vamos dar espaço (aos estrangeiros)", dispara Márcio Cypriano, presidente do Bradesco, o banco privado número 1 do ranking. Segundo Cypriano, muitos estrangeiros não conseguiram ficar no País porque há três bancos privados brasileiros fortes, que têm a excelência na prestação de serviços", afirma.

Para Roberto Setúbal, presidente do Itaú, segundo maior banco privado no Brasil, "se há um ponto em comum na atuação das instituições brasileiras e estrangeiras hoje, esse ponto é o investimento em suas carteiras de crédito. Mas sairá na frente quem tiver o melhor produto", sentencia.

Números – A resposta da concorrência estrangeira poderá vir na forma de números. E o ABN AMRO Brasil (R$ 69 bilhões em ativos), do grupo holandês ABN AMRO, é um exemplo emblemático. Em 2005, o banco conquistou um milhão de novos clientes. Mesmo atrás, em tamanho, dos bancos nacionais, conseguiu ultrapassar em depósitos o Unibanco, terceiro maior banco privado do País (R$ 81,5 bilhões em ativos). Foram R$ 40,9 bilhões de depósitos do ABN contra R$ 35,7 bilhões da instituição dos Moreira Salles.

Ainda em relação aos depósitos, o ABN também já começa a morder o calcanhar do Itaú, que fechou 2005 com depósitos de R$ 45,3 bilhões. "Uma de nossas estratégias para crescer em 2006 será continuar focando na ampliação da base de clientes", diz Fábio Barbosa, presidente do ABN AMRO no Brasil.

O Santander, do grupo espanhol Santander Central Hispano, anuncia para este primeiro semestre o fim da reestruturação interna após a compra, em 2000, do Banespa e avisa: "Vamos tentar roubar participação de mercado do concorrente", diz Jamon Sanchez, vice-presidente do Santander no País. "O banco dispõe de ferramentas que identificam as necessidades dos correntistas".

Para ganhar mercado, o inglês HSBC já fez de quase tudo. É o único banco hoje no País que tem seu atendimento nas agências ampliado em duas horas e atende aos sábados. E deixou concorrentes arrepiados ao reduzir a zero suas tarifas bancárias. Amanhã, o banco anuncia o resultado de 2005. Por isso, vigora a lei do silêncio. Mas na semana passada, o presidente mundial do banco, John Bon, reconheceu que a chance de crescimento no Brasil deverá, vir, especialmente, da venda de cartões de crédito, abertura de contas correntes e, claro, dos empréstimos.

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